A tentativa de horizontalizar as relações laborais entre os membros de uma empresa, revela-se uma tarefa algo complexa quando é notório que cada um fala um idioma diferente e defende ideologias muito próprias. Entre uns a disputa é saudável e adocicada com cumplicidades, entre outros, disputa é disputa, guerra.
Ao ver tudo isto através da posição de espectadora, não sei aplaudir ou ter reacções às birras e explosões de egocentrismo ridículas a que tantas vezes assisto. Bajulações à parte (trata-se de uma questão de sobrevivência), sei que ajudo a suportar uma estrutura que não foi bem edificada; mas sei também que essa estrutura deficiente me suporta a mim, num jogo dissimulado de troca suja de serviços, de omissões consentidas e papéis meio assinados.
É visivel que, a pouco e pouco, vou desejando o que não quero mas o que me fazem sentir. Complicado, de facto. Diariamente, vão-se produzindo todo o tipo de sentires novos por todo o tipo de pessoas. Comparando-me com os demais, penso até ser demasiado tolerante... e, sinceramente, confunde-me o cinismo. Estes demais adquiriram uma tal capacidade de se transmutar que, num minuto são clarividência e noutro a pura estupidez (aquela que irrita, mesmo).
...
As almas penadas do costume: caminham sempre na diagonal, chaves ao peito, passo apressado, cordiais, meios sorrisos, cumplicidades. Percebo os flirts que emergem no dia-a-dia no local de trabalho. E não só percebo como também os sinto, sem lhes atribuir qualquer sentir ou sentido, nada me fazem sentir. Eles existem porque sim e porque sem eles as essências ressentir-se-iam.