Às vezes sento-me com uma folha de papel à frente e não sei o que escrever. Por vezes são tantas as ideias que não lhes sei dar qualquer ordem ou sentido. Tem dias que desisto de tentar escrever e são esses os dias em que tudo se aglomera dentro de mim, palavras aos tropeções que não se sabem escrever por si, ideias sobre ideias que num infinito se perdem. O hábito não convida o desespero e só assim se sabe perdoar a palavra que não cativa o escritor. Entre o ser livre e a criatividade esperada encontra-se a esperança de que nem tudo o que são boas ideias devem necessariamente ser partilhadas. Às vezes o egoismo da perfeição deve ser mantido entre o silêncio e a escuridão pois só assim dará azo a alguma paz de genuinidade. Por vezes a partilha encontra em si o vazio de uma qualquer substância subjectiva. Tem dias que o enclausuramento das palavras na sua própria dimensão engrandece a alma de quem as pensa e entende. Assim só fica em desvantagem quem não as lê e só quem as vê é o favorecido. Mas se pensarmos que nesse mundo de palavras invisíveis existe um todo bem mais habitável, consiguimos também entender que são tantos os que vêem como aqueles que não as lêem mas imaginam.
Hajam palavras que nunca se pertilham. Que sejam mantidas na escuridão.